quinta-feira, 30 de abril de 2009
mãe.
nestes dezassete anos, gostava que tivesses usado mais esta pequena questão comigo 'estás bem?'. gostava que no momento certo me tivesses abraçado, ouvido e compreendido de coração aberto. não queria que me julgasses, me agredisses como muitas vezes o fizeste. cresci sem ti, é ridiculo não é? mãe eu cresci sem ti. cresci a ver-te chorar, vi-te sair de casa como uma criança, dei-te opiniões, ouvi-te e tentei ser uma boa filha. 'que mal fiz eu a deus para ter estes filhos?', está me marcado, isso e as vezes em que senti a tua raiva na minha pele, as vezes em que descarregas-te em mim toda a tua acumulação de sentimentos. eu moro contigo há tantos anos, saí de dentro de ti, mas quando falas de mim pareces que estás a descrever outra pessoa que não eu. respeitas-me, és paciente e agradeço-te isso. mas não me conheces, não sabes os meus dilemas, as minhas inseguranças. ao ponto de não te aperceberes das minhas depressões e mágoas. afastas-te uma das melhores pessoas que tive na vida, se não a melhor, de mim. magoaste-me e desiludiste-me imensas vezes. o pai mandou-me à merda três vezes, e tudo o que tu me disseste nessas vezes (e em tantas outras ocasioes) foi: tens que compreender, bláblá e eu compreendi. mas mãe, era uma criança quando perdi pessoas, as mesmas que tu e nem uma unica vez te preocupaste comigo, nem como eu estava a lidar com as coisas. vi o pai quase a morrer, vi-te a chorar muitos dias na casa de banho, e mãe achas que não me custou? isso e tantas outras coisas durante este tempo todo? e eu passei isso sem ti, sem tu quereres saber. o meu stress acumulado, a ansiedade, a revolta deve-se a isso. o pai mesmo magoado comigo disse me coisas do tipo: és o meu amor, quando nasceste todo o mundo ficou a saber, faço tudo por ti e o que mais quero é que sejas feliz, com quem escolheres ao teu lado, e se te magoarem eu vou-me a eles. eu amo-te.' e tu ficaste calada ao lado, não disseste nada. não percebeste nada. não recebo o teu carinho porque estás preocupada com outras coisas, nem nunca o recebi. não queiras recuperar o tempo perdido agora. só porque ouviste por entre portas os gritos da minha revolta. custa-me imenso, gostar tanto de ti e saber que tu não gostas assim de mim. não gostas ao ponto de me fazeres confiar, me fazeres criar fortes laços e me veres crescer. procuro a falta do teu carinho nos outros, mas não é a mesma coisas. o que eu hoje sou, não o devo a ti. mas na mesma te agradeço todas as pequenas coisas que fizeste por mim. mãe, hoje já vais tarde.
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1 comentário:
Adorei.
Este texto tocou.me em particular *
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